sexta-feira, 8 de abril de 2011

Guiné-Bissau: a chegada (Parte II)

13 de Outubro de 2010

Sem ver qualquer placa que afirmasse que estávamos em Bissau, era certo que tínhamos chegado. A placa com a indicação do aeroporto não podia ser em outro lugar que não a capital da Guiné-Bissau. A estrada estreita deu lugar a uma avenida larga e à primeira grande rotunda. Sem sabermos muito bem para qual dos lados devíamos seguir, decidimos parar e pedir informações. Afinal, estávamos na capital de um país, e as capitais são, normalmente, muito grandes. Sem perdermos muito tempo, perguntamos a um homem qual seria o melhor trajecto para chegar ao centro de Bissau. Ele olhou-nos com admiração - deve ter pensado que estaríamos a brincar com ele - ofereceu-se para nos indicar o caminho, mas com a nossa recusa em levar um passageiro numa viatura de dois lugares, o homem tornou-se um pouco violento nas palavras, gesticulou e acabou por dizer: "Não é assim que se pedem informações. Vocês não podem parar o carro e perguntar o caminho. Não se pedem informações dessa forma". Sem sabermos muito bem o que lhe responder, agradecemos e arrancamos. Uns metros mais à frente voltamos a parar e um outro homem, ao ver a matrícula estrangeira da nossa chaimite, disse-nos que para o centro de Bissau era só seguir em frente pelo Mercado do Bandim. Também nos pediu boleia, mas como mais uma vez recusamos, pediu-nos bolachas Maria. Espantados com tal pedido, demos rebuçados ao menino que o acompanhava. Prosseguimos pela larga avenida, sem deixarmos de comentar que a chegada a Bissau não fora das mais amistosas, isto tendo em conta que até então fomos sempre motivo de grande entusiasmo por parte dos guineenses.

De repente, a calma do início da avenida, dá lugar ao caos. A estrada com duas faixas para cada um dos lados é divida por um corredor de terra batida, os carros amontoam-se, pessoas que sem grandes pressas atravessam a avenida, observam-nos, sem grande interesse pela nossa presença, mas não deixam logo de nos tentar vender tudo o que têm nas mãos. Estávamos a passar o mercado do Bandim, onde há quem diga que se transacciona um milhão de dólares americanos em trocas comerciais diariamente.

.


Demoramos algum tempo até nos vermos livres do trânsito, mas a acalmia voltou logo a seguir. Parecia que todos os habitantes de Bissau se tinham concentrado num espaço de 2 km de comprimento. Pedimos informações de como chegar ao Hospital Simão Mendes. De Vila do Conde, levávamos um aparelho de medir a tensão arterial - oferta do Dr. Seidi, médico guineense há muito tempo radicado em Portugal. Entregamos o equipamento ao Director do Hospital, Dr. Pedro Semedo, e começamos à procura de estadia. Tínhamos decidido que faríamos de Bissau a base de toda a nossa actividade. Ficamos na Pensão Creola, em plena Praça Che Guevara, de onde se via o Porto e a chegada dos barcos.



Depois de instalados, começamos por explorar as paralelas e as perpendiculares à volta da Pensão. Ainda um pouco a medo, fomos comunicando com quem parecesse olhar para nós. Não tinha mudado muito em relação à travessia dos países que antecederam a chegada à Guiné-Bissau, a diferença é que falávamos em português e isso trazia algum conforto.

Ao explorar Bissau, o que mais salta à vista são os edifícios do tempo colonial, que mesmo estando em ruínas, não deixam de se mostrar na sua grandeza e desenho arquitectónico. Construções que poderiam ser no Porto, Lisboa ou Vila do Conde, pois também em Portugal existem verdadeiros atentados à conservação urbanística. O problema de Bissau é que todas as construções do tempo colonial estão desfeitas.


Acabamos o dia com um jantar bem português: prego no prato, salada e um bom café no Restaurante "O Porto", propriedade de um nortenho há vários anos na Guiné. Neste restaurante, encontramos imensos portugueses, mas também brasileiros, espanhóis e italianos, todos eles homens e mulheres de negócios ou em missão na Guiné. Perguntaram de que ONG fazíamos parte, ao que respondemos que a nossa missão tinha sido chegar ali numa carrinha de dois lugares, atravessando o deserto do Sahara, as estradas mortais da Mauritânia, a polícia corrupta do Senegal e as florestas tropicais sem estrada desse mesmo país. Espantados com o nosso resumido discurso da viagem, continuaram os seus afazeres.


Felizes por estarmos bem instalados e confortáveis em relação aos nossos principais motivos para esta viagem, descansamos no nosso primeiro dia de Guiné-Bissau.

Sem comentários: