terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Estamos a construir um website.

Esta página deixará de ser utilizada brevemente.

Muito obrigado a todos.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Guiné-Bissau: a chegada (Parte II)

13 de Outubro de 2010

Sem ver qualquer placa que afirmasse que estávamos em Bissau, era certo que tínhamos chegado. A placa com a indicação do aeroporto não podia ser em outro lugar que não a capital da Guiné-Bissau. A estrada estreita deu lugar a uma avenida larga e à primeira grande rotunda. Sem sabermos muito bem para qual dos lados devíamos seguir, decidimos parar e pedir informações. Afinal, estávamos na capital de um país, e as capitais são, normalmente, muito grandes. Sem perdermos muito tempo, perguntamos a um homem qual seria o melhor trajecto para chegar ao centro de Bissau. Ele olhou-nos com admiração - deve ter pensado que estaríamos a brincar com ele - ofereceu-se para nos indicar o caminho, mas com a nossa recusa em levar um passageiro numa viatura de dois lugares, o homem tornou-se um pouco violento nas palavras, gesticulou e acabou por dizer: "Não é assim que se pedem informações. Vocês não podem parar o carro e perguntar o caminho. Não se pedem informações dessa forma". Sem sabermos muito bem o que lhe responder, agradecemos e arrancamos. Uns metros mais à frente voltamos a parar e um outro homem, ao ver a matrícula estrangeira da nossa chaimite, disse-nos que para o centro de Bissau era só seguir em frente pelo Mercado do Bandim. Também nos pediu boleia, mas como mais uma vez recusamos, pediu-nos bolachas Maria. Espantados com tal pedido, demos rebuçados ao menino que o acompanhava. Prosseguimos pela larga avenida, sem deixarmos de comentar que a chegada a Bissau não fora das mais amistosas, isto tendo em conta que até então fomos sempre motivo de grande entusiasmo por parte dos guineenses.

De repente, a calma do início da avenida, dá lugar ao caos. A estrada com duas faixas para cada um dos lados é divida por um corredor de terra batida, os carros amontoam-se, pessoas que sem grandes pressas atravessam a avenida, observam-nos, sem grande interesse pela nossa presença, mas não deixam logo de nos tentar vender tudo o que têm nas mãos. Estávamos a passar o mercado do Bandim, onde há quem diga que se transacciona um milhão de dólares americanos em trocas comerciais diariamente.

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Demoramos algum tempo até nos vermos livres do trânsito, mas a acalmia voltou logo a seguir. Parecia que todos os habitantes de Bissau se tinham concentrado num espaço de 2 km de comprimento. Pedimos informações de como chegar ao Hospital Simão Mendes. De Vila do Conde, levávamos um aparelho de medir a tensão arterial - oferta do Dr. Seidi, médico guineense há muito tempo radicado em Portugal. Entregamos o equipamento ao Director do Hospital, Dr. Pedro Semedo, e começamos à procura de estadia. Tínhamos decidido que faríamos de Bissau a base de toda a nossa actividade. Ficamos na Pensão Creola, em plena Praça Che Guevara, de onde se via o Porto e a chegada dos barcos.



Depois de instalados, começamos por explorar as paralelas e as perpendiculares à volta da Pensão. Ainda um pouco a medo, fomos comunicando com quem parecesse olhar para nós. Não tinha mudado muito em relação à travessia dos países que antecederam a chegada à Guiné-Bissau, a diferença é que falávamos em português e isso trazia algum conforto.

Ao explorar Bissau, o que mais salta à vista são os edifícios do tempo colonial, que mesmo estando em ruínas, não deixam de se mostrar na sua grandeza e desenho arquitectónico. Construções que poderiam ser no Porto, Lisboa ou Vila do Conde, pois também em Portugal existem verdadeiros atentados à conservação urbanística. O problema de Bissau é que todas as construções do tempo colonial estão desfeitas.


Acabamos o dia com um jantar bem português: prego no prato, salada e um bom café no Restaurante "O Porto", propriedade de um nortenho há vários anos na Guiné. Neste restaurante, encontramos imensos portugueses, mas também brasileiros, espanhóis e italianos, todos eles homens e mulheres de negócios ou em missão na Guiné. Perguntaram de que ONG fazíamos parte, ao que respondemos que a nossa missão tinha sido chegar ali numa carrinha de dois lugares, atravessando o deserto do Sahara, as estradas mortais da Mauritânia, a polícia corrupta do Senegal e as florestas tropicais sem estrada desse mesmo país. Espantados com o nosso resumido discurso da viagem, continuaram os seus afazeres.


Felizes por estarmos bem instalados e confortáveis em relação aos nossos principais motivos para esta viagem, descansamos no nosso primeiro dia de Guiné-Bissau.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Página da Missão Dulombi no Facebook

Sem motivo aparente, a nossa página no Facebook foi desactivada. Contudo, criamos uma nova página que podem visitar e adicionar. Para isso basta clicar em 'Gosto' na página da Missão Dulombi.

http://www.facebook.com/pages/Miss%C3%A3o-Dulombi/193263710696463

Obrigado!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Guiné-Bissau: a chegada (Parte I)

13 de Outubro de 2010

Sem precisarmos de despertador, acordamos relativamente bem dispostos. Estávamos a 20 Km da Guiné-Bissau, mas sobravam, ainda, alguns pontos que nos poderiam travar no caminho ao destino final. Depois de tantas nuvens negras no percurso, neste momento o Sol que brilhava em Ziguinchor poderia querer dizer muito pouco, pois ainda faltava o visto para a Guiné-Bissau, a saída do Senegal, que tanto custou a atravessar, e o tempo e burocracia que seria de esperar na fronteira.



Mal entramos no carro, sentimos o cheiro do dia anterior: terra, suor e os lenços de papel que serviram para limpar vidros. Sorrimos e percorremos a curta distância entre o Hotel e o Consulado. Não foi difícil de encontrar e, estacionados à porta, ficamos abismados com o movimento no centro de Ziguinchor. Não é muito diferente das grandes cidades africanas da Mauritânia e do norte do Senegal, mas foi a primeira onde pernoitamos e a primeira onde paramos o carro e andamos a pé. Subimos ao primeiro andar do espectacular edifício do Consulado, não que fosse moderno, mas porque se tratava de uma construção típica do tempo colonial francês, em relativo bom estado e é uma daquelas construções que a grande maioria das pessoas adoraria ter como casa.

O Cônsul ficou muito feliz por ver dois portugueses. Só acreditou que tínhamos vindo de carro quando foi connosco à varanda e viu a chaimite com a bandeira portuguesa pendurada nas grades. Apresentou-nos o seu filho - um menino de 4 anos que não sabe falar português - carimbou os nossos passaportes, desejou-nos uma boa estadia na Guiné e sorriu mais uma vez. Para nosso espanto, este processo que tão demorado foi nos países anteriores, demorou apenas 15 minutos, tudo sem grandes perguntas e custou 15 € para cada um de nós. Em Portugal, pelo que sabemos, o visto custa cerca de 70 € e pode demorar uma semana. Check-point marcado, seguimos para a fronteira.

Nos 20 Km até à fronteira conseguimos, finalmente, olhar um pouco à nossa volta. Verde, verde, verde e mais verde: palmeiras, coqueiros e mil e uma árvores que nunca tínhamos visto na vida. Aos charcos que nos acompanhavam, respondiam os ossos olhos vidrados e expressões de admiração: "olha bem esta paisagem!"; "que lindo!"; "vê bem o tamanho daquele pássaro!"; "tanta água!". Num ápice avistamos as barreiras feitas de amontoados de madeira e pedras. Estávamos de saída do Senegal. Entregamos o "pass-avant", carimbamos passaportes e surpreendentemente, tivemos de pagar de novo para a alfândega. Perguntamos quanto teríamos de pagar para reaver o documento que nos permite conduzir no Senegal. Resposta: "o mesmo que pagaram quando entraram na Barragem de Diama, 15 €". Sorrimos para o homem, pois sabíamos que esse valor estava muito longe do que havíamos pago. Longe, para muito melhor.


Arrancamos passados 10 minutos de termos parado na fronteira e, percorridos 2 Km, a barreira fronteiriça da Guiné-Bissau mostrava-se pela primeira vez. Os procedimentos são muito similares aos anteriores, a grande diferença é que, pela primeira vez, falamos em português. Pagamos o que achamos que devíamos pagar, mostramos documentos pessoais e da chaimite. Ficamos uns bons 30 minutos a explicar o que estávamos ali a fazer. oferecemos umas prendinhas a quase toda a gente na fronteira e seguimos para São Domingos. Lá esperava-nos o comandante do posto da Guarda Fiscal. Problemas? Nada disso. Simplesmente, na fronteira, tinha-nos sido pedido que entregássemos o comando do leitor de DVD no posto seguinte. Sorrisos, conversa boa e seguimos para a localidade seguinte: Ingore.


Ligamos para Portugal a dar a notícia da chegada à Guiné-Bissau. Ouvimos os suspiros de alivio, palavras emocionadas que nos fizeram tremer a voz. Dentro do carro, já não falávamos, mas gritávamos entre cumprimentos e abraços efusivos. Rádio no máximo, a Kizomba e os ritmos africanos, de que nunca fomos ouvintes, faziam todo o sentido. Estávamos mesmo muito felizes, mas cientes de que muito havia por fazer.

Estacionamos em frente à esquadra da guarda fiscal em Ingore. Ainda nem sabíamos bem com quem falar, e já um homem gritava: "Dulombi? Essa é a terra onde nasci!". O homem era o chefe da esquadra, de nome Aruna Jamanca, sobrinho de uma antigo chefe das milícias em Dulombi. Explicamos os motivos da nossa missão e mostramos o livro de fotografias sobre a CC 2700 de Américo Estanqueiro. Bebemos uma cerveja, distribuímos material de escrita para a esquadra e seguimos para Bissau. Mais um momento alto nesta primeira hora em território guineense.



A estrada é óptima e atravessamos o Rio Mansoa por uma grande ponte – financiada, pelo que nos contaram, pelos chineses – pagamos uma pequena portagem, a primeira depois de Marrocos e chegamos a Safim. Aqui fomos controlados por um chefe um pouco mal disposto. Em Safim cruza-se a estrada de São Domingos com a estrada que vem de Bafatá, ou seja, todos os carros que querem chegar até Bissau passam, obrigatoriamente, por ali. Talvez seja esse o motivo de tal aparato, que incluía um controle de passagem de viaturas muito curioso. Dificilmente expressaríamos uma gargalhada, mas cedo percebemos que a árvore em frente à esquadra era estratégica. Amarram uma corda à árvore, estendem-na pelo chão, prendem sacos plásticos ao longo da corda e puxam-na sempre que querem parar um carro. Obviamente que fomos parados dessa forma. A sorte do guarda que segura e puxa a corda na outra extremidade é que o Ricardo ia atento, caso contrário, o nosso primeiro incidente ia mesmo acontecer. Arrastar um polícia agarrado à sua corda não seria muito agradável, mas ainda olhamos um para o outro, com aquele olhar matreiro de quem conhece bem os primos Ramos.


Por volta das 15h Bissau estava mesmo muito perto, circulávamos a 50 Km/h e só queríamos desfrutar da vista. A cada aldeia que nos surgia, largávamos um "olá, bom dia!", acenávamos e sorríamos. Uma semana depois da saída de Vila do Conde, e depois de tantas aventuras, estávamos muito relaxados, orgulhosos pelo feito e não perdíamos uma oportunidade de agradecer à nossa chaimite. Chegou, onde tinha de chegar, mas sofreu muito.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

De Tambacounda a Ziguinchor pela estrada lunar!

12 de Outubro de 2010

Há quem diga que a noite em África é mais escura do que na Europa. Na verdade, as estrelas e a Lua são bem mais brilhantes do que na Europa, mas aqui não há iluminação pública em muitos locais fora das cidades e este sítio onde pernoitamos era uma pequena floresta, das inúmeras que devemos ter passado sem notar.

Sem darmos conta estávamos muito perto de Tambacounda. Tínhamos parado o carro no primeiro matagal que nos pareceu seguro. O nosso despertar foi divertido, pois o medo da escuridão deu lugar ao sorriso que retribuímos a um grupo de 20 pessoas que nos admiravam a menos de 5 metros. Ficamos com a sensação de que estes senegaleses estavam tão admirados com a presença da nossa chaimite que nem tiveram coragem de se aproximarem. Nem sequer falaram, mesmo depois do nosso "Bon Jour".



Coisas em que pensamos mal arrancamos: distância para as possíveis entradas na Guiné-Bissau e vistos de entrada. Depois de falarmos com o nosso amigo Francisco - reside no Porto e acompanhou a nossa viagem desde a partida - decidimos seguir até Ziguinchor. Ficamos a saber da existência de um Consulado da Guiné-Bissau nesta cidade e a distância até à fronteira seriam apenas 20 Km.

De Tambacounda a Ziguinchor seriam, aproximadamente, 200 Km e mesmo com as paragens policiais que certamente nos iriam acontecer, estaríamos no Consulado para tratar dos vistos bem antes das 14h - hora do seu encerramento.
Cedo percebemos que, como nos 4600 Km anteriores, em África não se fazem planos, nem de horas nem de distâncias.



A estrada era uma miséria. Nunca imaginamos passar por uma estrada tão má. Pior que isso, de nada servia ir a 20 Km/h e tentar aproveitar para ver a paisagem ou contactar com os locais. Era impossível tirar os olhos da estrada. Os buracos eram tantos que quando apareciam 200 metros mais direitos, parecia que tínhamos feito 2 Km.  Por instantes, transportamo-nos para o ano de 1969, altura em que o Homem pisou a Lua pela primeira vez e onde circulou com um veículo de quatro rodas!

A certa altura, encontramos um grupo de homens que estavam a tapar os buracos da estrada com aquela típica terra vermelha de África. Curiosos, paramos e perguntamos quanto tempo demorariam a arranjar os imensos quilómetros de estrada destruída. Um deles, com um sorriso de quem estaria satisfeito por ter trabalho, disse isto: "Meu amigo, isto demora mais ou menos 5 meses. A chuva está mesmo a acabar e já se pode voltar a refazer tudo". Continuamos a viagem e não conseguimos deixar de pensar neste episódio. Naquela zona do continente africano, são 6 meses de chuva e 6 meses de seca. Se a época das chuvas deixa a estrada destruída e se demoram 5 meses a reconstruí-la, quer isso dizer que quando estiver pronta, sobra um mês até voltar a chuva.
 


O tempo foi passando e por volta do meio-dia - 3 horas depois da nossa saída - só tínhamos feito 70 Km. Passamos Manda, Véllingara, Kounkane e Kolda pela N6 e constatamos, pelas perguntas que íamos fazendo, que era a única estrada transitável no Sul do Senegal. O nosso GPS estava tão confuso que, em vez de diminuir o tempo de viagem, aumentava como se tivéssemos de fazer tudo de novo, só para encurtar os últimos 400 Km de viagem até à Guiné-Bissau. A estrada estava cada vez pior e cedo percebemos que a chegada a Ziguinchor e ao Consulado iria ser muito complicado. Em sentido contrário não passou nenhum carro, no mesmo sentido do que nós passaram duas carrinhas de transporte de pessoas, algumas motas e muitas bicicletas. Insistimos nesta ideia de que passaram, porque na realidade, todos passaram por nós. A nossa chaimite levou tantas pancadas por baixo que ficamos muito receosos com o desenrolar da etapa final no Senegal. Enquanto um conduzia, o outro andava na frente da pobre carrinha, a ver o melhor caminho para não a castigar mais do que já tinha sido castigada na Mauritânia.



Sem querer, foi criada uma tensão escusada no interior do carro. O GPS mostrava-nos um rio a acompanhar-nos pelo nosso lado direito. A distância estava mesmo mais curta até Ziguinchor, mas a palavra Casamance no visor do nosso mapa digital trouxe à memória todas as histórias e relatos desta zona do Senegal. Esta zona que incluí os departamentos de Kolda e de Ziguinchor, onde ainda se fala português, foi povoada por portugueses no Século XV e só deixou de ser território português por troca pela França, que cedeu a Portugal uma outra zona no Sul da Guiné-Bissau. Esta zona é alvo de conflitos, pois como em todas as áreas geográficas que tenham petróleo, a confusão instala-se pelo seu poder. Recomendamos a leitura de textos sobre esta zona de África, desta forma não se tiram conclusões precipitadas. Aos relatos de raptos, roubos e grupos de rebeldes violentos, respondem outros que afirmam que os rebeldes não passam de um grupo de jovens que tentam contrariar a exploração indevida de recursos e de pessoas. Não sabemos quem tem razão, mas ao passar por essa zona, lembramo-nos de todas elas.




Já passava das 21h quando chegamos a Ziguinchor. Na verdade faltavam 300 metros para chegar à avenida principal, mas ficamos retidos por um charco de água mesmo no centro da estrada. O carro não passava, pois pelas palavras de um grupo de pessoas que jogavam uma espécie de jogo de damas, para que o carro não ficasse ali, teríamos de esperar que a água baixasse. Estupefactos, pensamos que só faltava aquilo para ter um final de dia mais horrível que o restante. Fizemos 180 Km em 13 horas, grande parte a menos de 20 Km/h e agora que chegamos ao destino, não podíamos passar. Entretanto, entre o grupo de homens, discutia-se qualquer coisa que tentamos perceber. Um deles, num francês pior que o meu, disse que conhecia um outro caminho para nos desviar deste obstáculo intransponível e que nos levaria ao centro da cidade. Explicamos que não o poderíamos levar dentro do carro. Ele disse que não era preciso. Foi a correr à frente do carro e em três tempos vimos o acesso a uma grande avenida. Estávamos, finalmente, no centro de Ziguinchor. Oferecemos umas moedas ao homem. Não aceitou. Demos um abraço a este gentil senegalês, sorrimos os três e procuramos perceber para que lado deveríamos conduzir de seguida.

Descobrimos que a fronteira com a Guiné-Bissau estava fechada desde as 19h e que o consulado estava fechado desde as 16h. Pernoitar na maior cidade do Sul do Senegal era um bom desafio, mas decidimos não arriscar e procurar um hotel que fosse, de certa forma, seguro. Por sermos portugueses, indicaram-nos um hotel onde guardavam os carros do Consulado da Guiné-Bissau. Chegados lá, nem discutimos preço. O hotel ficava a 20 Km da fronteira, a 1 Km do Consulado, era limpo, tinha água quente, ar condicionado, parque seguro e, melhor que tudo, televisão portuguesa.


Jantamos mais uma boa dose de salcichas, atum e pão (compramos numa loja paredes meias com o hotel). Tomamos um banho decente depois de 1000 Km pelo Senegal, entre terra, chuva e muito suor. Dormimos.

domingo, 28 de novembro de 2010

A passagem para o Senegal

11 de Outubro de 2010

Acordamos por volta das oito da manhã. O dia anterior tinha sido tão pesado, tão negativo, que pior seria mesmo impossível.

Arrancamos do Hotel em Rosso uma hora depois e começamos a perguntar onde estaria a entrada para a estrada que liga a N2 à barragem de Diama. Logo percebemos que, como o tempo, a distância é algo que as pessoas não dominam muito bem em África. Em cinco paragens, obtivemos as seguintes distâncias: 12, 20, 30,45 e 53km. Para quem se estava a aproximar do acesso ao caminho de terra batida, o aumento significativo de quilómetros, descrito pelos locais, começava a preocupar.

De repente, vimos uma entrada mais larga. Perguntamos a um homem que pedia boleia e seguimos com a certeza de que estávamos no trilho certo. Outra dúvida que tinha ficado era a da distância até à Barragem que serve a fronteira entre a Mauritânia e o Senegal. Fossem 50 ou 100km, para trás já não voltávamos.

Andamos cerca de 5km e passamos uma lomba em terra quando percebemos que estávamos no caminho errado. Este erro foi solucionado por um homem que seguia numa carroça puxada por um burrito. Atrás da carroça seguia um outro burro, como que a fazer de suplente para o que ia a puxar. 



O homem acenou de longe e disse-nos: 'vocês não querem ir por aí'. Alguns instantes depois percebemos que ele sabia que queríamos seguir para Diama e disse: 'têm de seguir até Dieuk', uma pequena aldeia no meio do deserto enlameado. Explicou-nos que Dieuk é um dique e indicou-nos o caminho até lá. Seguimos no topo deste dique, com água, muita água, dos dois lados.



Não vimos um único carro para seguir e as marcas de pneus eram tão confusas que só podíamos mesmo confiar no instinto e na sorte para não nos perdermos. O GPS estava mais perdido do que nós.

A paisagem é deslumbrante: cegonhas, lagartos gigantes, macacos, raposas e um mundo animal que nem tínhamos coragem de tentar adivinhar os nomes.

Passámos por carros que pareciam abandonados, talvez por terem avariado. Construções destruídas pela força das águas e o caminho... completamente esburacado! Não dava para passar dos 30km/h.



Duas horas depois da saída do Hotel, contávamos 45 km no conta-quilómetros. Na imagem do GPS, parecia que metade da distância estava percorrida, mas com um caminho que até a um jipe traria dificuldades, o tempo que faltaria até ao Senegal era ainda uma incógnita.

A falta de segurança da Mauritânia, aquela que toda gente se queixa, tem sido substituída pela simpatia de pescadores, lenhadores e pessoas que passam por nós de bicicleta. Bem...ultrapassam será o termo mais correcto.



Mesmo neste pedaço de terra alagado existem as mesmas barreiras de segurança onde vamos mostrando os documentos, passaportes na maior parte das vezes.

Numa dessas passagens surge mais uma situação que poderia ter gerado confusão. A passar pelo Parque Natural de Dwaling, surgem dois militares que exigem 3000 Ogya por cada um de nós para prosseguirmos viagem. Percebemos que a existência de uma taxa de passagem de veículos seja normal, até porque em Portugal também se faz o mesmo, nomeadamente no Parque Natural da Peneda-Gerês. O que não estávamos a aceitar era o pagamento por pessoa na viatura. Depois de perguntarmos se este pagamento também existia para as pessoas que passavam a pé, só nos deu vontade de voltar uns metros atrás e um de nós passar a pé.

Insistimos que não tínhamos dinheiro e deixamos em aberto a possibilidade de trocar esse pagamento por umas "prendinhas". Entretanto tinha chegado o chefe dos dois militares. 15 minutos depois estávamos de novo a rolar e as prendas foram distribuídas desta forma e com esta descrição: "Para ti - o primeiro militar - tenho umas caneleiras de futebol, experimenta para ver se te servem"; "para ti tenho uns headphones e uns rebuçados" - segundo militar; "para o chefe tenho uma prenda especial" - pegando numa calculadora com um bloco de notas acoplado - "serve para fazeres contas do dinheiro que vais cobrando aos estrangeiros, e deste lado escreves desta foma...franceses 3000 Ogya, ingleses 3000 Ogya, espanhóis 3000 Ogya...portugueses não pagam nada!" (risos, muitos risos). O homem achou graça e deixou-nos seguir sem pagar nada. Para trás ficou um militar fardado já com as caneleiras nas pernas, mesmo por cima da farda, um outro que devorou todos os rebuçados, e o chefe, a deslumbrar a seu novo brinquedo. Nós passámos sem gastar dinheiro e com a moral reforçada.

Entretanto a estrada estava um pouco melhor, pelo menos a terra estava mais dura e mais plana. Aos 93km estávamos finalmente na fronteira. Com tudo normal nos carimbos da alfândega e polícia, seguimos até ao posto fronteiriço do Senegal, onde avistámos a tão desejada Barragem de Diama.



Uma cancela fechada, que um homem nos abriu com o pagamento de 7€ (achamos um absurdo esse pagamento, mas queríamos mesmo entrar rapidamente no Senegal).

Tínhamos a lição estudada para esta fronteira. Sabíamos que nunca seria fácil passar sem novos subornos, novos esquemas. Sabíamos que nunca nos iriam facilitar a entrada, pois no Senegal os carros com mais de cinco anos estão proibidos de entrar e circular.

No parque da Fronteira vimos carros alemães, franceses e, por incrível que pareça, muitos carros portugueses (grande parte Peugeot 504 e 505).

Após cinco horas de negociação, muito jogo de cintura, umas prendinhas e muita paciência entramos finalmente no Senegal.



Com o pass-avant (documento que nos permitiu seguir viagem com o nosso carro), e sem o guia para nos levar até à fronteira com a Guiné-Bissau, sabíamos que os riscos de circular num único carro e sendo apenas duas pessoas, eram muitos. Um amigo do Porto que já fez esta viagem nove vezes, falou connosco pelo telefone e avisou-nos que nas saídas das cidades havia sempre polícia, sempre pronta a roubar, literalmente, os documentos até que lhes déssemos dinheiro. Explicou que o melhor seria seguir atrás de camiões para estarmos, de certa forma, camuflados.

Passamos St. Louis num ápice, uma cidade confusa, com gente por todo lado, muito comércio e um estilo de vida que muito se assemelha a Marrocos, pois tudo se vende. O cair do Sol impediu-nos de ver muito para além da estrada, mas sabíamos que St. Louis se encontrava rodeado por água, quer do Rio Senegal, quer pelo Atlântico. Avistámos as barreiras policiais de que nos falaram e passámos sem problemas de maior. Tínhamos, entretanto, tomado a decisão de não ir a Dakar - conselho de um polícia que nos disse que pelo interior as paragens policiais seriam mais fáceis...grande conselho! E seguimos por Louga, Touba e Kaolack.

Queríamos conduzir, pelo menos até Tambacounda. De lá até Ziguinchor, cidade no Sul do Senegal onde se encontrava o Consulado da Guiné-Bissau, seriam uns 350kms. Essa distância seria facilmente ultrapassada em quatro ou cinco horas.

Já de madrugada, com 500km percorridos e muitas "prendas" oferecidas aos polícias senegaleses, decidimos parar para dormir. Mas finalmente sentimos o que até agora nunca tínhamos sentido: medo. 4000kms depois de termos saído de casa, estávamos exaustos e sem sítio seguro para parar a chaimite. Quando se entra num país que não se conhece e se sente medo das autoridades, descrever o sentimento de parar o carro no meio do mato...simplesmente não dá para explicar.

Cinco da manhã, 40 graus, fechados num carro atrás do mato, mosquitos por todo lado. O cansaço acabou por vencer o medo e dormimos umas quatro horas, sentados como sempre, mas desta vez sem as toalhas a tapar os vidros, não fosse o diabo tecê-las e termos de arrancar a qualquer momento (deixámos o carro com a frente para a estrada).

O primeiro dia do Senegal foi muito duro. Estávamos a tentar não ceder.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Dulombi 2012

Após os resultados gratificantes da primeira viagem a Dulombi, estamos a preparar o regresso à Guiné-Bissau. Com um levantamento de necessidades feito, pretendemos regressar para dar cumprimento a novos objectivos, nomeadamente:

1. Equipar o hospital de Galomaro;

2. Desenvolver uma instalação eléctrica para as aldeias de Galomaro e Dulombi;

3. Equipar as escolas de Galomaro e Dulombi.

A partir de hoje vamos começar a recolher brinquedos, jogos didáticos e material escolar, com particular incidência em cadernos, material de escrita e de desenho, mochilas, réguas, calculadoras, giz. apagadores, dicionários e globos terrestres.

Brevemente anunciaremos os locais de depósito dos materiais.