11 de Outubro de 2010
Acordamos por volta das oito da manhã. O dia anterior tinha sido tão pesado, tão negativo, que pior seria mesmo impossível.
Arrancamos do Hotel em Rosso uma hora depois e começamos a perguntar onde estaria a entrada para a estrada que liga a N2 à barragem de Diama. Logo percebemos que, como o tempo, a distância é algo que as pessoas não dominam muito bem em África. Em cinco paragens, obtivemos as seguintes distâncias: 12, 20, 30,45 e 53km. Para quem se estava a aproximar do acesso ao caminho de terra batida, o aumento significativo de quilómetros, descrito pelos locais, começava a preocupar.
De repente, vimos uma entrada mais larga. Perguntamos a um homem que pedia boleia e seguimos com a certeza de que estávamos no trilho certo. Outra dúvida que tinha ficado era a da distância até à Barragem que serve a fronteira entre a Mauritânia e o Senegal. Fossem 50 ou 100km, para trás já não voltávamos.
Andamos cerca de 5km e passamos uma lomba em terra quando percebemos que estávamos no caminho errado. Este erro foi solucionado por um homem que seguia numa carroça puxada por um burrito. Atrás da carroça seguia um outro burro, como que a fazer de suplente para o que ia a puxar.
Arrancamos do Hotel em Rosso uma hora depois e começamos a perguntar onde estaria a entrada para a estrada que liga a N2 à barragem de Diama. Logo percebemos que, como o tempo, a distância é algo que as pessoas não dominam muito bem em África. Em cinco paragens, obtivemos as seguintes distâncias: 12, 20, 30,45 e 53km. Para quem se estava a aproximar do acesso ao caminho de terra batida, o aumento significativo de quilómetros, descrito pelos locais, começava a preocupar.
De repente, vimos uma entrada mais larga. Perguntamos a um homem que pedia boleia e seguimos com a certeza de que estávamos no trilho certo. Outra dúvida que tinha ficado era a da distância até à Barragem que serve a fronteira entre a Mauritânia e o Senegal. Fossem 50 ou 100km, para trás já não voltávamos.
Andamos cerca de 5km e passamos uma lomba em terra quando percebemos que estávamos no caminho errado. Este erro foi solucionado por um homem que seguia numa carroça puxada por um burrito. Atrás da carroça seguia um outro burro, como que a fazer de suplente para o que ia a puxar.
O homem acenou de longe e disse-nos: 'vocês não querem ir por aí'. Alguns instantes depois percebemos que ele sabia que queríamos seguir para Diama e disse: 'têm de seguir até Dieuk', uma pequena aldeia no meio do deserto enlameado. Explicou-nos que Dieuk é um dique e indicou-nos o caminho até lá. Seguimos no topo deste dique, com água, muita água, dos dois lados.
Não vimos um único carro para seguir e as marcas de pneus eram tão confusas que só podíamos mesmo confiar no instinto e na sorte para não nos perdermos. O GPS estava mais perdido do que nós.
A paisagem é deslumbrante: cegonhas, lagartos gigantes, macacos, raposas e um mundo animal que nem tínhamos coragem de tentar adivinhar os nomes.
Passámos por carros que pareciam abandonados, talvez por terem avariado. Construções destruídas pela força das águas e o caminho... completamente esburacado! Não dava para passar dos 30km/h.
A paisagem é deslumbrante: cegonhas, lagartos gigantes, macacos, raposas e um mundo animal que nem tínhamos coragem de tentar adivinhar os nomes.
Passámos por carros que pareciam abandonados, talvez por terem avariado. Construções destruídas pela força das águas e o caminho... completamente esburacado! Não dava para passar dos 30km/h.
Duas horas depois da saída do Hotel, contávamos 45 km no conta-quilómetros. Na imagem do GPS, parecia que metade da distância estava percorrida, mas com um caminho que até a um jipe traria dificuldades, o tempo que faltaria até ao Senegal era ainda uma incógnita.
A falta de segurança da Mauritânia, aquela que toda gente se queixa, tem sido substituída pela simpatia de pescadores, lenhadores e pessoas que passam por nós de bicicleta. Bem...ultrapassam será o termo mais correcto.
Mesmo neste pedaço de terra alagado existem as mesmas barreiras de segurança onde vamos mostrando os documentos, passaportes na maior parte das vezes.
Numa dessas passagens surge mais uma situação que poderia ter gerado confusão. A passar pelo Parque Natural de Dwaling, surgem dois militares que exigem 3000 Ogya por cada um de nós para prosseguirmos viagem. Percebemos que a existência de uma taxa de passagem de veículos seja normal, até porque em Portugal também se faz o mesmo, nomeadamente no Parque Natural da Peneda-Gerês. O que não estávamos a aceitar era o pagamento por pessoa na viatura. Depois de perguntarmos se este pagamento também existia para as pessoas que passavam a pé, só nos deu vontade de voltar uns metros atrás e um de nós passar a pé.
Insistimos que não tínhamos dinheiro e deixamos em aberto a possibilidade de trocar esse pagamento por umas "prendinhas". Entretanto tinha chegado o chefe dos dois militares. 15 minutos depois estávamos de novo a rolar e as prendas foram distribuídas desta forma e com esta descrição: "Para ti - o primeiro militar - tenho umas caneleiras de futebol, experimenta para ver se te servem"; "para ti tenho uns headphones e uns rebuçados" - segundo militar; "para o chefe tenho uma prenda especial" - pegando numa calculadora com um bloco de notas acoplado - "serve para fazeres contas do dinheiro que vais cobrando aos estrangeiros, e deste lado escreves desta foma...franceses 3000 Ogya, ingleses 3000 Ogya, espanhóis 3000 Ogya...portugueses não pagam nada!" (risos, muitos risos). O homem achou graça e deixou-nos seguir sem pagar nada. Para trás ficou um militar fardado já com as caneleiras nas pernas, mesmo por cima da farda, um outro que devorou todos os rebuçados, e o chefe, a deslumbrar a seu novo brinquedo. Nós passámos sem gastar dinheiro e com a moral reforçada.
Entretanto a estrada estava um pouco melhor, pelo menos a terra estava mais dura e mais plana. Aos 93km estávamos finalmente na fronteira. Com tudo normal nos carimbos da alfândega e polícia, seguimos até ao posto fronteiriço do Senegal, onde avistámos a tão desejada Barragem de Diama.
Uma cancela fechada, que um homem nos abriu com o pagamento de 7€ (achamos um absurdo esse pagamento, mas queríamos mesmo entrar rapidamente no Senegal).
Tínhamos a lição estudada para esta fronteira. Sabíamos que nunca seria fácil passar sem novos subornos, novos esquemas. Sabíamos que nunca nos iriam facilitar a entrada, pois no Senegal os carros com mais de cinco anos estão proibidos de entrar e circular.
No parque da Fronteira vimos carros alemães, franceses e, por incrível que pareça, muitos carros portugueses (grande parte Peugeot 504 e 505).
Após cinco horas de negociação, muito jogo de cintura, umas prendinhas e muita paciência entramos finalmente no Senegal.
Com o pass-avant (documento que nos permitiu seguir viagem com o nosso carro), e sem o guia para nos levar até à fronteira com a Guiné-Bissau, sabíamos que os riscos de circular num único carro e sendo apenas duas pessoas, eram muitos. Um amigo do Porto que já fez esta viagem nove vezes, falou connosco pelo telefone e avisou-nos que nas saídas das cidades havia sempre polícia, sempre pronta a roubar, literalmente, os documentos até que lhes déssemos dinheiro. Explicou que o melhor seria seguir atrás de camiões para estarmos, de certa forma, camuflados.
Passamos St. Louis num ápice, uma cidade confusa, com gente por todo lado, muito comércio e um estilo de vida que muito se assemelha a Marrocos, pois tudo se vende. O cair do Sol impediu-nos de ver muito para além da estrada, mas sabíamos que St. Louis se encontrava rodeado por água, quer do Rio Senegal, quer pelo Atlântico. Avistámos as barreiras policiais de que nos falaram e passámos sem problemas de maior. Tínhamos, entretanto, tomado a decisão de não ir a Dakar - conselho de um polícia que nos disse que pelo interior as paragens policiais seriam mais fáceis...grande conselho! E seguimos por Louga, Touba e Kaolack.
Queríamos conduzir, pelo menos até Tambacounda. De lá até Ziguinchor, cidade no Sul do Senegal onde se encontrava o Consulado da Guiné-Bissau, seriam uns 350kms. Essa distância seria facilmente ultrapassada em quatro ou cinco horas.
Já de madrugada, com 500km percorridos e muitas "prendas" oferecidas aos polícias senegaleses, decidimos parar para dormir. Mas finalmente sentimos o que até agora nunca tínhamos sentido: medo. 4000kms depois de termos saído de casa, estávamos exaustos e sem sítio seguro para parar a chaimite. Quando se entra num país que não se conhece e se sente medo das autoridades, descrever o sentimento de parar o carro no meio do mato...simplesmente não dá para explicar.
Cinco da manhã, 40 graus, fechados num carro atrás do mato, mosquitos por todo lado. O cansaço acabou por vencer o medo e dormimos umas quatro horas, sentados como sempre, mas desta vez sem as toalhas a tapar os vidros, não fosse o diabo tecê-las e termos de arrancar a qualquer momento (deixámos o carro com a frente para a estrada).
O primeiro dia do Senegal foi muito duro. Estávamos a tentar não ceder.
Passamos St. Louis num ápice, uma cidade confusa, com gente por todo lado, muito comércio e um estilo de vida que muito se assemelha a Marrocos, pois tudo se vende. O cair do Sol impediu-nos de ver muito para além da estrada, mas sabíamos que St. Louis se encontrava rodeado por água, quer do Rio Senegal, quer pelo Atlântico. Avistámos as barreiras policiais de que nos falaram e passámos sem problemas de maior. Tínhamos, entretanto, tomado a decisão de não ir a Dakar - conselho de um polícia que nos disse que pelo interior as paragens policiais seriam mais fáceis...grande conselho! E seguimos por Louga, Touba e Kaolack.
Queríamos conduzir, pelo menos até Tambacounda. De lá até Ziguinchor, cidade no Sul do Senegal onde se encontrava o Consulado da Guiné-Bissau, seriam uns 350kms. Essa distância seria facilmente ultrapassada em quatro ou cinco horas.
Já de madrugada, com 500km percorridos e muitas "prendas" oferecidas aos polícias senegaleses, decidimos parar para dormir. Mas finalmente sentimos o que até agora nunca tínhamos sentido: medo. 4000kms depois de termos saído de casa, estávamos exaustos e sem sítio seguro para parar a chaimite. Quando se entra num país que não se conhece e se sente medo das autoridades, descrever o sentimento de parar o carro no meio do mato...simplesmente não dá para explicar.
Cinco da manhã, 40 graus, fechados num carro atrás do mato, mosquitos por todo lado. O cansaço acabou por vencer o medo e dormimos umas quatro horas, sentados como sempre, mas desta vez sem as toalhas a tapar os vidros, não fosse o diabo tecê-las e termos de arrancar a qualquer momento (deixámos o carro com a frente para a estrada).
O primeiro dia do Senegal foi muito duro. Estávamos a tentar não ceder.