domingo, 14 de novembro de 2010

Mauritânia: mente-se muito em relação a África (Parte I)

Sábado, 9 de Outubro de 2010

Ouvimos o despertador às 5h da manhã, mas só conseguimos levantar às 5h30. O nosso ritmo de viagem estava a ser muito bom, mas os corpos começam a sentir os quilómetros. O Ali, dono do Camping, acordou para nos abrir o portão, despediu-se, desejou boa sorte e pediu que recomendássemos o Camping. Pois bem, está mais que recomendado.

Temos mais 660 Km até à fronteira com o Senegal e lá temos de chegar antes das 18h - hora em que encerram a maior parte das fronteiras por estas paragens. Se ontem conseguimos ver a cidade de Nouadhibou, hoje estamos a conduzir com um nevoeiro tão cerrado, que nem nos apercebemos bem dos desvios que fizemos no dia anterior. Sabemos é que até voltar à N2 (estrada que atravessa a Mauritânia pela costa), vamos ter mais duas paragens para mostrar passaportes.

Por volta das 7h30, o nevoeiro começa a dissipar, sinal que nos estávamos a afastar do mar, aparece-nos o Sol. Pois bem, o nascer do Sol no deserto é uma visão incrível. Trópico de Câncer ultrapassado há muitos quilómetros, estamos mais perto do Sol do que alguma vez estivéramos e este aparece na forma de uma bola de fogo enorme. Paramos uns instantes para fotografar o momento e continuamos a desbravar a estrada

A 200 Km de Noakchott estávamos ainda a pensar na história da espanhola que conhecemos no dia anterior: "este país é muito perigoso; todos os polícias vos vão causar problemas; cuidado com os roubos e raptos; este país é uma m****....".  Este país revelou-se fácil nas paragens policiais, onde só entregamos fotocópias do passaporte e respondemos às perguntas da praxe, feitas a turistas. A espanhola mentiu muito ou então as histórias de África vão mudando de personagem para personagem, facto que nos deixou mais confortáveis para o resto da viagem. Claro que é um país que queremos atravessar rapidamente, até porque não temos visto muitos sítios que se pareçam com um alojamento ou oficina, apenas, areia, areia, areia...



Quanto às estradas da Mauritânia, estas revelam-se muito boas, apesar das habituais rasteiras que nos vai tentando fazer. Há bocados de estrada encobertas por areia que se vai acumulando nas dunas, situação que os camiões limpa-areia vão resolvendo (imaginem um limpa-neves, mas com outras funções). Mesmo assim, o alcatrão que vai sendo derretido pelas altas temperaturas do dia e congelado pelas temperaturas muito baixas da noite, apresenta fracturas que mais parecem facas apontadas aos pneus da nossa chaimite. Numa dessas zonas de estrada, passamos a uns razoáveis 80Km/h. Pensamos o pior, mas os pneus sobreviveram. Estamos a andar a um bom ritmo, mas ainda faltam 300 Km de deserto até chegarmos ao Senegal e se alguma coisa avariar...


 
13h - A 20 Km de Noakchott vimos duas crianças a brincar com pedaços de madeira. Decidimos parar para dar alguns rebuçados. Aproximaram-se em segundos, uma delas grita e num ápice aparecem mais 30. O Ricardo olhou pelo espelho e viu um verdadeiro batalhão  a correr e a gritar. Sem sabermos muito bem o que fazer, arrancamos deixando pela janela mais umas mãos cheias de rebuçados. Mal olhamos em frente, deparamos com mais um controle policial, olhamos para trás e o batalhão continuava a perseguição. Situação nova.

Entramos em Noakchott. Há coisas muito bonitas em África, mas a capital da Mauritânia não é sítio para se estar durante muito tempo. Se esperávamos o caos? Sim, mas o que vimos ultrapassa tudo: lixo por toda a parte; cabras, porcos, burros, vacas que também se alimentam desse lixo; carros que se amontoam, buzinam e batem uns nos outros, na tentativa de circularem mais depressa. A nossa chaimite não é o melhor carro para ultrapassar os buracos enormes que entopem os cruzamentos. Para piorar a situação, não existe uma única placa, sinal de trânsito ou indicação de como sair da cidade.



Uns três ou quatro enganos e inversões de marcha depois, lá conseguimos encontrar de novo a N2. Perdemos 1h em Noakchott, faltam 220 Kms para a fronteira e a vontade de continuar faz o Ricardo querer conduzir mais uma horas. Prosseguimos.

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