sábado, 6 de novembro de 2010

De Tan-Tan a Dakhla: à conquista do deserto, com o mar no horizonte.

Quinta-feira, 7 de Outubro de 2010

Já eram quase 10h da manhã quando o Ricardo acordou. Estava um homem a pedir-lhe boleia e tentamos explicar que o nosso carro só tinha dois lugares e que não poderíamos dar-lhe transporte. O homem só falava árabe, o Ricardo só falava português. Em 10 minutos lavamos a cara, os dentes e comemos umas bolachas. O homem conseguiu boleia com um camião e nós seguimos viagem.

A 190km de Tarfaya temos sempre o mar como companhia pelo nosso lado direito e uma vasta terra amarela com vegetação baixa e muitas pedras do nosso lado esquerdo. Chegamos a Tarfaya por volta do meio-dia. Foi a última cidade antes da entrada  no Sahara Ocidental.  Atestamos o depósito com o gasóleo mais barato que algum dia vimos (0,47€/L). Em Tarfaya, e fica aqui o conselho para todos os que queiram fazer uma viagem por estas paragens, tem multibanco, pequenos hotéis, lojas e oficinas, não falta nada. Encontramos um cybercafé de onde enviamos as primeiras fotografias. Seguimos para El Aaiun: 110 km de areia e muitos dromedários. Temos de reconhecer que foi uma excitação ver estes animais tão bonitos e corpulentos no seu habitat natural. Atravessam a estrada como se de mais um bocado de areia se tratasse e nós só temos mesmo de estar atentos. A buzina da chaimite tem trabalhado muito, para não haver problemas com os animais.



Tínhamos sido alertados para o forte dispositivo militar nas proximidades da "fronteira", quer na saída de Marrocos, quer na entrada do Sahara Ocidental. Dito e feito! Até El Aaiun foram três paragens, paragens estas que continuaram até Bojador. Numa destas paragens, esquecemo-nos de desligar a nossa "action camera" - GoPro HD - e o guarda, meio em árabe, meio em francês, viu e perguntou se era uma câmara, respondemos que sim, mas fazia parte do GPS. Explicamos que quando o GPS não reconhecia a estrada, a câmara filmava e passava a informação para o Garmin que o Carlos nos emprestara. Acreditou? Sim e ficou impressionado com as tecnologias que aquela chaimite apresentava! Sorte em continuar viagem com a GoPro? Muita!!!

Com El Aaiun pelas costas, precisávamos de carregar a bateria do telemóvel. O carregador estava na mala do carro e, por isso, decidimos parar na berma da estrada. Mal pusemos as rodas do lado direito fora da estrada, ficamos automaticamente presos na areia! O Ricardo bem se esforçou para tirar de lá o carro mas a situação era cada vez pior. Quando nos preparávamos para começar a escavar, eis que surge um jipe com dois amigos dispostos a ajudar-nos. Estávamos felizes! Íamos usar as cintas de reboque pela primeira vez! (Obrigado Sise!)

Atadas as duas extremidades da cinta, o nosso novo amigo, de nome Hamid, começou a rebocar a chaimite, na tentativa de a desatolar. Com o carro já no alcatrão, o homem continuou a acelerar, pois achava que o carro continuava preso na areia. Claro que sentia o carro preso...o Ricardo já tinha visto que estava no alcatrão e tinha o pé no travão! Arrastou a nossa pobre viatura uns bons 50m pelo alcatrão. Eu, que estava de fora, e o Younés, amigo do condutor do jipe, começamos a gritar para que o homem parasse! E este parou. Refeitos do susto, tiramos fotografias com os nossos amigos. Disseram-nos que se voltássemos a El Aaiun, nos ofereciam casa e comida. Agradecemos e seguimos viagem.



Passamos o Cabo Bojador por volta das 18h e aí teve início uma das etapas mais difíceis, no que à estrada diz respeito. Foram aproximadamente 200km de estradas muito estreitas, pelo meio de montanhas. Os camiões, que são todos Mitsubishi, andam sempre com os faróis no máximo e, por mais que o Ricardo os castigasse da mesma forma, estes recusavam-se a baixar para os médios. Resultado: uma viagem muito cansativa para os olhos já muito cansados do Ricardo.O cruzamento com os carros foi penoso e o stress acumulado fazia prever coisas menos boas nesta muito perigosa estrada.



O acesso a Dakhla assinala o fim destas montanhas. Uma rotunda assinala as duas únicas direcções possíveis: Dakhla para a direita a 40km, fronteira com a Mauritânia para a esquerda a 330km. Seguimos pela direita à procura de um Camping.

A 15km do destino de descanso, mais uma operação policial. Paramos no Stop como em todas as anteriores. Desta vez o guarda estava tão longe que nem o conseguíamos ver. Como de costume, esperamos que nos fizessem sinal com a lanterna, para podermos avançar. O sinal pareceu surgiu e avançamos. Quando chegamos ao pé do guarda ele disse boa noite, fez continência e perguntou se não sabíamos que tínhamos de esperar pelo sinal dele. Dissemos que tínhamos visto o sinal. Ele disse que não e porque não paramos no STOP tínhamos de pagar uma multa de 700 Dirham (68€). Logo respondemos que não tínhamos tanto dinheiro. O homem cheio de pena disse: "No dia 1 de Outubro (6 dias antes) a lei mudou. Até essa altura a multa seriam apenas 40 Dirham". Pedimos desculpa, dissemos que era a primeira vez que estávamos naquela zona do planeta e que teríamos cuidado para não repetir o erro. O homem queria mesmo o dinheiro da multa. O Gil no seu francês primitivo disse que o dinheiro não abundava mas que podíamos compensá-lo com uma t-shirt de um clube de futebol. Demos um equipamento completo de um clube qualquer. Siga viagem!
Encontramos o Camping logo à entrada da cidade. Parecia seguro, apesar de só lá estarmos nós. Parecia limpo. Decidimos ficar. Preço por pessoa 3€. Banho (pago à parte) 1€. Só pagamos o banho, o resto ficaria para a manhã seguinte.



O Ricardo decidiu fazer uma sopa, enquanto eu montava a tenda. A sopa soube muito bem, mas não encontramos a tampa do colchão de ar e dormimos no duro cimento que servia de base à tenda. Céu estrelado como nunca vimos. Tenda fechada. Boa noite.

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